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Operadoras criam banda 'ultralarga'

Talita Moreira e Gustavo Brigatto Não faz muito tempo, uma conexão de banda larga de 1 megabit por segundo (Mbps) era algo sensacional. Com ela, você conseguia carregar rapidamente uma página da internet e podia baixar uma música em alguns minutos. Mas você - junto com outros milhões de pessoas - resolveu que queria fazer download de vídeos e divulgar suas fotos na web. E, então, provavelmente concluiu que essa velocidade não era tão boa assim. A demanda aumentou muito, mas a capacidade das redes também. Hoje, a velocidade inicial oferecida pelas operadoras de telefonia e de TV a cabo é de 2 Mbps e as empresas estão começando a vender conexões de até 100 Mbps. Para isso, as companhias de telecomunicações estão construindo redes de fibra óptica que chegam até a residência de seus clientes. A infra-estrutura convencional de telefonia, de fios de cobre, não dá conta do recado porque sua capacidade é bem mais limitada. O movimento ainda é incipiente no país, onde a maioria da população sequer tem acesso à internet discada em casa e o número de conexões de banda larga é de quase 10 milhões. Mas as operadoras estão começando a construir redes de altíssima velocidade, ainda que, por enquanto, elas estejam restritas aos bairros mais ricos das cidades mais ricas - onde vivem consumidores potenciais de pacotes que começam na faixa dos R$ 400. A iniciativa mais recente é da Brasil Telecom (BrT). Na quarta-feira, a operadora vai começar a vender conexões de banda larga com velocidades de 14 Mbps a 100 Mbps nas cidades de Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre e Florianópolis. A companhia está investindo um valor não-revelado para levar fibra óptica à casa de seus clientes. Hoje, a conexão de internet mais veloz da BrT, na rede convencional de telefonia, é de 8 Mbps. Por enquanto, a nova tecnologia estará disponível para 50 mil domicílios, diz o vice-presidente de operações da Brasil Telecom, Francisco Santiago. O ritmo de ampliação dependerá da oscilação cambial e do planejamento da Oi, que está comprando a BrT. A Telefônica lançou sua rede de fibra óptica residencial no começo deste ano, no bairro dos Jardins, na capital paulista. Mas, agora, a empresa está na reta final de um projeto de expansão para a Grande São Paulo e o interior do Estado. Em janeiro de 2009, a tecnologia passará a ser oferecida em 370 mil domicílios. Ainda é pouco, mas esse cenário deve mudar em alguns anos. Marcio Fabbris, diretor de produtos residenciais da Telefônica, avalia que mais da metade dos domicílios do Estado de São Paulo estará coberta por fibra óptica até 2012. Em outras regiões do país, onde a renda per capita é menor, o processo deve demorar mais. Mesmo assim, executivos do setor prevêem uma disseminação razoavelmente rápida. No Brasil, isso deve acontecer até 2014, diz Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa, fornecedora de fibra óptica. Segundo ele, a rede convencional de telefonia deve ser substituída aos poucos pela fibra. "O cabo coaxial tende a morrer", afirma. Ninguém fala em valores, mas isso vai implicar investimentos bilionários. Nos Estados Unidos, a operadora Verizon anunciou, em 2004, que aplicaria US$ 18 bilhões, em seis anos, para levar a tecnologia à metade dos domicílios em sua área de cobertura num prazo de seis anos - frente aos gastos de US$ 4,9 bilhões que teria no período para manter sua rede de cobre. Na época, a Verizon estimou que teria 7 milhões de usuários de internet e 4 milhões de TV utilizando a tecnologia no fim de 2010. Em setembro, o número de clientes era de 2,2 milhões e 1,6 milhão, respectivamente. "O investimento em fibra óptica tem retorno a longo prazo", comenta Júlio Püschel, analista do Yankee Group. As operadoras de telefonia fixa não estão sozinhas. As empresas de TV a cabo também estão começando a oferecer a chamada banda "ultralarga". Mais do que isso, foram elas que acirraram a competição no mercado de internet, que reduziu preços e aumentou a velocidade das conexões. Na semana passada, a Net anunciou que terá acessos de 20 Mbps e de 60 Mbps em São Paulo. A empresa já fez o mesmo no Rio de Janeiro. A operadora de TV a cabo não precisa implantar fibra óptica para isso: sua rede já tem capacidade para transmitir dados em velocidade alta. Nos últimos anos, operadoras de telefonia e de TV por assinatura começaram a competir entre si e a disputar os mesmos clientes - principalmente os de maior renda - com a oferta de pacotes que combinam voz, acesso à internet e vídeos. Por sinal, vídeo é palavra-chave para compreender o interesse das operadoras nas redes de altíssima velocidade. As empresas estão de olho num novíssimo negócio: a transmissão de TV via internet, ou IPTV (sigla em inglês para televisão sobre protocolo de internet). Fabbris, da Telefônica, afirma que a companhia vai lançar IPTV até a metade de 2009. Haverá duas opções de serviço: a compra de vídeos sob demanda ou de pacotes como os da TV paga convencional. A Telefônica pode fazer isso porque controla parte da TVA, que tem licença para atuar como empresa de TV paga. Outras operadoras de telefonia estão à espera de mudanças na regulamentação que lhes permitam atuar como provedoras de televisão por assinatura. É o caso da BrT. Há mais de dois anos a operadora tem um projeto piloto de IPTV em Brasília, mas como não pode oferecer grade de programação - apenas vídeos sob demanda - a conta não fecha, diz Santiago. A transmissão de TV em alta definição será o grande atrativo das novas redes, na avaliação do executivo. "Queremos dar, desde já, uma grande velocidade aos nossos clientes como preparativo para oferecermos vídeos em banda larga no futuro", diz. Segundo Shaikhzadeh, nos Estados Unidos já começa a se experimentar a conexão da fibra diretamente nos televisores - hoje ela é levada até o assinante e o sinal, distribuído por meio de um decodificador. O executivo afirma que esse tipo de produto pode chegar ao Brasil em cinco anos.
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